sexta-feira, julho 28, 2006

Para quem quer que leia... :

Brancas mariposas.

A Lua cheia
E as noites ventosas.

A dor que remedeia
As ideias nebulosas.

O cortar da veia
Com lâminas cuidadosas.

A penumbra na cadeia
Assume formas assombrosas.

O canto da sereia
Entre palavras mentirosas.

A fraca luz da candeia
Iluminando rubras rosas.

A forma de uma teia
Em ténues linhas sinuosas.

Uma matrona feia
Usando roupas andrajosas.

A vontade que incendeia
A escrita de belas prosas.

Uma grande epopeia
Com cenas escandalosas.

A mesa da ceia
Decorada com mimosas.

O sabor de uma geleia
De frutas saborosas.

“Quero uma dúzia e meia
Dessas maçãs deliciosas!”

Um travesti que coxeia,
Mas com seguranças plumosas.

A pele que bronzeia
Sob as ameaças cancerosas.

A balada da baleia:
Que toadas esplendorosas!

A comida que rareia
Na dispensa de gémeas gulosas.

O cheiro da minha aldeia
E de terras argilosas.

O marido que esbofeteia
A esposa de mamas voluptuosas.

Uma breve semicolcheia
Seguida de três notas ruidosas.

A beata que pranteia
Suas lamúrias religiosas.

A pasteleira que recheia
Bolos com natas gordurosas.

Um homem que cambaleia
Nas suas fracas pernas leprosas.

A nojenta e forte diarreia
Que ataca as pessoas tuberculosas.

Existe mais alguma (não faço ideia!)
Destas doenças infecto-contagiosas?

A criança que odeia
Ter que comer as leguminosas.

O assassino que esfaqueia
Vítimas pouco cuidadosas…

A vontade que escasseia
Para terminar estas rimas ranhosas.

“Ó s’achavôr, é mais uma lampreia
E duas gasosas.”

“Ai, eu adoro a Margarida Pinto Correia!
É uma daquelas almas caridosas…”

“Olá! Eu moro em Seia
E chamo-me Catarina Grosas.”

“Hummm, adoro papas de aveia!
São tão doces e apetitosas!

Já disse que já me chateia
Estar a fazer estas frases escabrosas?

De que é constituída a areia?
De pequenas esférulas minerais granulosas.

“Adorava ir à Eritreia…”
E que tal parar com esta porra?!

terça-feira, julho 18, 2006

Oh Lua Amarela!


53 minutos antes…

Oh meu querido, tu sabes que eu gosto muito de ti, mas não podemos ficar juntos… tens que me tentar compreender… temos as nossas incompatibilidades… eu sou uma Irmã! Pertenço à Santa Igreja. Fiz um voto. Estou casada com Deus! …
Toma querido, leva este terço contigo. Quando te lembrares de mim reza a Deus e estarei sempre lá para ti.
O rapaz agarra no fio de contas, vira-lhe as costas com um sufoco na garganta e segue em direcção a sua casa sem olhar para trás…

***

11 minutos antes…

É agora que vou comer o meu rico queijinho, diz o rapaz após ter chegado a casa. Lá fora ouve-se um grito de uma senhora…

***

Agora…

Mas quem é que comeu o meu queijo? Quem trincou a fatia que eu deixei por último? Aquela que tinha guardado para o fim porque me parecia que seria aquela que me saberia melhor…
Não vejo ninguém nas redondezas… Terá sido um rato passageiro? Um pobre vagabundo esfomeado? Uma mulher grávida com desejos de queijo?
Não compreendo… quem quereria comer uma fatia de queijo num prato branco em cima de uma mesa de madeira?
Será que é assim tão apelativo…?
Da próxima como-a logo. E não deixo que ninguém lhe chegue a pôr os olhos em cima sequer… aquela fatia de queijo era minha! Ninguém tinha o direito de ma tirar…
Neste momento, um rato estúpido ou um mendigo fétido ou uma prenha gorda anda a digerir lentamente o meu queijinho… e nem sequer o deve ter saboreado como deve de ser…
Como é possível? Será que não compreendem?
Agora fico eu com fome e sem poder saborear o pedacinho de queijo por que tanto ansiei… ainda por cima a minha úlcera péptica já está a dar sinal outra vez… devia ter sido eu a comer o queijo. Agora está-me a doer… a culpa é toda deles!
Ah! Mas que nervos! Se eu apanho quem foi… corto-lhe a língua e deixo-o esvair-se em sangue…
Quer dizer… se for um ratinho isso deve ser mais complicado, porque a língua dos ratos é mais pequena, não é? Pois, mas então arranco-lhe uma orelha ou uma pata…
Qualquer coisa!
Desde que nunca mais se esqueçam da minha fatia de queijo!
A minha fatiazinha de queijo era demasiado valiosa para ser esquecida nos estômagos nojentos de tais vis criaturas…
Se ao menos esse serzinho miserável me tivesse deixado alguma pista… mas não! Essa gentalha sabe sempre fazer tudo pela calada. Uma pessoa nunca descobre nada…
Ou quase nada…
Reparo agora que o prato foi mexido… portanto, a hipótese do coitadinho do ratinho já está posta de parte. Não me parece que um ratito lingrinhas tenha forças suficientes para mexer um prato. Só se for uma ratazana… mas ainda há 3 semanas e meia fiz uma desratização em casa! Não deve ser… bom, ponho o rato de parte…
Só podem ser ou o asqueroso do pobretanas ou a porca da grávida…
Hummm… mas a cadeira também já não está no seu lugar… que suspeito… Não me lembro de ter mexido nesta cadeira… e é mesmo a cadeira em frente ao prato que tem as migalhinhas insignificantes do meu rico queijinho…
Ainda está muito próxima da mesa para que uma grávida pudesse-se sentar nela… com uma barrigona como elas costumam ter, nem nunca caberia ali alguma! Portanto, das duas uma, ou era uma grávida com poucos meses de gravidez – onde nem sequer têm muitos desejos e eu nem as considero como grávidas (são portadoras de pequenos tumores uterinos, são o que são!) – ou então ela, no fim de comer o meu queijinho, tentou arrumar a cadeira… aquela porca, badalhoca e desavergonhada! Ainda goza comigo, a bandida! A fingir que não fez nada…
Espera aí que já te apanho…
Tenho o casaco no chão… aquele que eu tinha posto no encosto da cadeira ontem. E está mesmo rasteiro às pernas da cadeira… portanto, quem comeu o queijo, deixou cair o meu casaco enquanto o estava a comer e depois não arrumou a cadeira, porque senão haveria uma certa distância entre esta e o casaco…
Ah Ah! Menos uma suspeita. O rato e a grávida já foram… safaram-se! …
Portanto, só resta mesmo o pobretanas…
Cabrão do velho! Tinha que ser ele! Como é que eu não previ logo? Ai se o apanho na rua! Aí é que ele vai ver como elas doem…
Ora então, chega-me aqui aquele fedorentozinho e rouba-me o meu rico queijinho sem mais nem quê!? Mas era o que mais faltava agora!
Espera que já vais ver como é… enfio-te o pratinho, com as minhas ricas migalhinhas, inteirinho pela goela abaixo… Ah, soube-te bem o queijinho, não foi? Então come o prato inteiro…
Pensas que não? Tu não me conheces…

Nesse caso, nem eu próprio me reconheço… como é possível que eu esteja a ter este género de pensamentos tão sombrios?!
Coitado do mendigozinho… devia estar com tanta fome… deixá-lo comer o meu queijo… não tem problema… eu depois compro outro. E, tal como neste meu queijinho, também hei-de encontrar no novo uma fatia preferida… e deixá-la-ei para o fim, tal como agora… e se o velhinho voltar a aparecer, cheio de fome, ele que coma essa fatia também… não me importo nada!
As pessoas não escolhem ser assim… as rejeitadas da sociedade… Deus deu-me outra sorte… Eu pelo menos tenho muitos amigos… a doce Irmã é minha amiga.
Humm, às vezes surpreendo-me com a minha tão grande benevolência! Sou tão bonzinho… algumas pessoas nem o merecem e deviam arder numa fogueira… mas, tirando essas poucas…
Sinto-me bem por, ao fim e ao cabo, ter aliviado este pobrezinho. Agora, até eu me sinto mais aliviado. Acho que vou dormir mais um pouquinho…
Que Deus proteja este pobrezinho de todo o Mal… Assim lho desejo!


***

Entretanto…

Dá entrada no hospital um homem com muito mau aspecto, muito malcheiroso e com ar de mendigo. Morreu a caminho do hospital com um crucifixo enfiado pela garganta…


Um pedaço de queijo da Serra mergulha no mar ácido de um estômago ulceroso.

quarta-feira, julho 12, 2006

O Vício Esplendoroso...

Suor.
Sinto uma gota que desce pelo meu nariz… cai-te no canto da boca.
Libertas um suspiro abafado, enquanto te beijo a orelha.
As tuas mãos percorrem as minhas costas e apertam-me as nádegas ao teu encontro.
O lençol macio enrola-se à tua perna direita.
Lambo o teu pescoço quente e desço até ao mamilo esquerdo. Sentes a minha língua a brincar com ele? Sim, percebo-o nos teus olhos semicerrados.
Desço mais um pouco, beijando-te, acariciando-te… passo com o queixo na tua covinha do umbigo e continuo a descer…
A minha barba roça as tuas virilhas. Ouço-te lá longe a suspirar… a gemer…
Continuo a brincar com a língua húmida… acariciando o teu íntimo… até te ouvir, num suspiro, pedindo-me para parar. E então, ergues a tua mão direita, pegas-me no queixo e levas-me até mais perto de ti.
A luz fraca do candeeiro de mesa projecta sombras que flutuam na parede amarelada.
Sinto-te por completo. Quente… O meu suor mistura-se com o teu… os meus dedos entrelaçam-se nos teus… os nossos gemidos dissolvem-se um no outro… os nossos corpos (con)fundem-se. A dualidade que éramos deixou de existir.
Entrelaças as pernas à minha volta…
O prazer percorre o meu corpo... um estremecimento breve que me desce pela espinha.
As tuas mãos tocam-me. Beliscam-me o mamilo esquerdo e enrolam-se ao meu pescoço. Puxas-me para um beijo sôfrego. Sinto o teu peito a roçar o meu. A tua língua na minha boca, brincando…
Abandono-a por instantes e soergo-me um pouco. O teu olhar suplicante…
Não consigo resistir…
Aumenta o gemer da cama.
O teu olhar ávido fica, por momentos, vazio. Fechas os olhos num pequeno sorriso. A tua respiração ofegante atinge o auge…
Um raio de adrenalina percorre-me, pedindo para libertar toda a tensão acumulada…
O coração explode-me no peito que se violenta. O ar não me chega.
Tento resistir… mais um pouco… não aguento!… cheguei ao ponto sem retorno. A minha visão fica turva, os sons distorcem-se...
Uma explosão de sensações libertinas!... e deixo de sentir… Apenas um alívio espásmico.
Sorrio…
Lentamente, vou conseguindo distinguir os pormenores do teu corpo nu diante de mim.
Vou retomando o ritmo cardíaco enquanto te olho nos olhos, desço a ti e me deito a teu lado.

Como é mesmo o teu nome?



quinta-feira, julho 06, 2006

É Organomecénico!

Arranco mais um pouco da pele necrótica que me dilaceraste…
A sensação quente do sangue (erótica!) foi tudo em que erraste.
As tuas garras afiadas abriram-me subtilmente a ferida…
No entanto, foi a dor aguda a mais profundamente sentida.

Uma explosão de minúsculas células brancas:
Factores, um Interferão e outras Citocinas,
A segregação de mais Imunoglobulinas…
Quantas mortes, quantas vidas?

É orgânico, (este) meu amor…
Tudo é orgânico.
A dor e o pânico…
Não!, tudo é organomecânico.

Le temps, c’est mon accompagnant.


("Souviens-toi que le Temps est un joueur avide
Qui gagne sans tricher, à tout coup! C'est la loi.
(…) la clepsydre se vide.
Tantôt sonnera l'heure où (…) tout te dira: Meurs (…) ! "

in L’horloge, Charles Baudelaire)


Dédié a ceux qui préfèrent des fleurs…