segunda-feira, outubro 16, 2006

O Amante

Tenho a acidez metálica na língua
De muitas peles, de muitas vidas.
Tenho o sangue cheio e o corpo apodrecido.
Imensos vales enchem-me a cara e o peito,
Poços profundos que me desfiguram o ser.
Uma vasta e infértil planície que me coroa,
Rasgando-me com fugazes espinhos de prata.
Marcas de duas mãos que me apertaram o tórax
E deixaram seus dedos profundos em mim.
Da minha mão cresceram-me cinco esguios galhos…
Como é linda a leveza com que tocam o ar!
As fracas raízes que roçam os chãos
Já nem me prendem a eles.

Dos crus ossos que sou, alguns ainda conseguem tocar a alvura doentia de uns panos macios. Os outros consomem-se…
A crueldade da luz que me mantém preso aqui morde-me os olhos profundos e sombrios.
Sou a Morte viva!



Mas, não apaguem a luz… Por favor, não a apaguem…